quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Caracas leva o Prêmio Presunto 2008

Euquesei é informação (atrasada).

Em setembro a revista americana Foreign Policy publicou uma lista de top 5 cidades onde se cometem mais homicídios no mundo. Caracas, longe de fazer feio, levou o troféu: 130 homicídios por cada grupo de 100 mil habitantes. Em uma população oficial de 3,2 milhões de pessoas.

(leia ouvindo Crimewave - Crystal Castles vs Health)

Já tinha ouvido falar que Caracas é a cidade mais violenta do mundo em outras ocasiões, mas o que impressiona desta vez é que os números com que a revista trabalhou são bastante conservadores. Os dados oficiais do governo omitem homicídios relacionados ao sistema prisional e outros que não chegam a ser "categorizados". E, claro, não contam as mortes causadas por "resistência à prisão". Conhecendo a fofurice habitual da polícia daqui, não é de se espantar. Eles são assustadores.

Algumas obras do Museu de Belas-Artes de Caracas também são assustadoras.

Sempre escuto histórias absurdas de coisas que eles aprontam na cara do povo, como por exemplo o que um de meus alunos contou: ele saía do trabalho, em um escritório aqui perto, caminhando com mais um colega, quando foi abordado por dois policiais perto da ponte. O motivo? Queriam dinheiro. Depois de limpar as carteiras dos coitados, saíram rindo. Isso às sete da noite, em um bairro de classe média alta. Imagina então o que não é no resto da cidade.


O artigo ainda põe o dedo na cara do presidente e diz que desde que Chávez assumiu o governo, em 1998, a taxa de homicídio oficial aumentou em 67%. Miércoles!


Outras fontes não-oficiais calculam que a taxa real é ainda maior: 160 por 100 mil. Pra vocês terem uma idéia do quanto isso é grave, a Cidade do Cabo (África do Sul) tem uma população de 3,5 milhões e levou o segundo lugar no top 5 com uma taxa de 62 homicídios por 100 mil habitantes. Menos da metade de Caracas.


Centro de Caracas: fui chamada de louca porque fiz uma visita, em plena luz do dia, mas sozinha.

A Foreign Policy não dá, no site, a fonte dos números, mas em uma
entrevista à Terra Magazine o sociólogo venezuelano Roberto Briceño León confirma que os dados sim existem e já foram anunciados há alguns meses pelo Observatório Venezuelano da Violência, núcleo da Universidade Central da Venezuela.

Saquem só esse trecho da entrevista: Por que o governo foi incapaz de melhorar os índices de criminalidade, apesar de todas as ações que foram tomadas? Porque não existe uma política, não se sabe o que fazer. Não se reconhece que isto é um problema grave. Porque não houve uma descontinuidade notória entre um ministro (de Interior) e outro.

A impressão pessoal que eu tenho aqui em relação à qualquer administração pública é exatamente essa: não sei e tenho raiva de quem sabe.

Outra informação interessante: a pobreza, claro, sempre foi culpada pela violência. Na Venezuela, porém, indicadores sociais como renda e consumo melhoraram nos últimos anos; mas os homicídios continuaram aumentando horrivelmente. A explicação, segundo o sociólogo,
é de ordem política, ou seja, da perda do pacto social e da perda da legitimidade das instituições, da existência de uma ação de governo que se dedicou a quebrar a legitimidade institucional, a elogiar condutas transgressoras, e isso tem conseqüências na criminalidade cotidiana.

Disse tudo. A tal Revolução Bolivariana aqui é uma desculpinha muito da vagabunda pra usar a Venezuela como um talão de cheques. E o resultado (parcial) é esse aí, crianças.

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