domingo, 21 de dezembro de 2008

Vacaciones

Férias at last!

Uma semana na praia aproveitando o inverno venezuelano (de 27 graus). Se estiver com sorte.

Feliz Natal pra vocês!

Tchau e beyjos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Faroeste caraquenho II: show gritos no campo de futebol

Estava ontem no conforto da minha sala, terminando de assistir um filme e curtindo minha ressaquinha da festa de Natal do dia anterior. Não tinha intenção nenhuma de me mover de onde estava, até que meu humor começou a mudar, de felizinha pra levemente puta, porque um alarme que conheço bem começou a tocar sem parar.

Como eu trabalho em casa, estou aqui a maior parte do tempo. Moramos em uma área que é considerada tranquila. Mas sinceramente faz uma boa era que eu não sabemos mais o que é peace and quiet. O prédio em frente parece estar em obras eternas, o vizinho de baixo está refazendo o banheiro e quebrando as paredes até nos sábados de manhã e sempre tem algum alarme de carro disparando sem motivo nenhum. Fora as buzinas. Mas isso é um problema cultural, eu sei - venezuelano já nasce surdo, porque 90% das mães passam nove meses ouvindo buzinaço de carro na cidade, reggaeton na praia e morando perto de alguma obra. Por isso ninguém parece se incomodar - pelo menos não demonstram.

Isso é outra coisa patética nesse país - ninguém reclama de nada, não na cara. Falam mal depois, reclamam pra vizinha, pro colega, pra família, seja lá do que for, mas não no momento em que se sentiram incomodados, nunca. Nossa, me dá pena o quanto o povo daqui é covarde. Se alguém disser "ah, no Brasil é a mesma coisa", tudo bem, brasileiro também é super sangue de barata, mas aqui ainda é pior, porque uma pessoa normal tem que suportar muito mais grosseria e engolir muitos milhões de sapos mais que no Brasil. Porque aqui quase ninguém tem educação de verdade.

Hoje em dia eu adoro quando algum caraquenho quer desculpar a bosta que é sua terra dizendo que pelo menos o povo é amável, warm, simpático... Nem respondo. É a gente mais mal-educada, sem noção e porca que eu já vi. E não gostam de estrangeiros, são super-preconceituosos. Vou ser justa: de estrangeiros do hemisfério norte. O povão daqui não consegue assimilar o fato de que não é culpa dos gringos que a Venezuela seja o cocô que é, e sim do(s) governo(s) que ele ajudou a eleger. Mas claro que é mais fácil culpar os gringos.


Voltando à minha sala: a droga do alarme não parava nunca mais. Paul terminou de fazer o que estava fazendo e veio me perguntar se eu queria ir com ele até o centro esportivo aqui da rua assistir uma partida de futebol. Esse lugar tem campos de futebol, golfe e até paintball para quem quiser alugar, e todo fim de semana tem uns times amadores jogando por lá. Eu não tenho lá muito (nenhum) interesse, mas como ele insistiu, decidi que talvez fosse uma boa tomar um ar e escapar do alarme pentelho, porque a tarde estava bem bonita.

Chegando no campo, sentamos numa mini-arquibancada que fica ali mesmo na beira da via principal do centro esportivo - assim, havia carros estacionados bem atrás da gente. Nem bem sentei um alarme horrível disparou, ensurdecedor. AAAAAAAAAAARGH. Olhamos em volta e havia um sujeito a uns três metros de distância fuçando em um controle remoto. Era o carro dele. O alarme parou. Meio minuto depois, disparou de novo e continuou assim por um tempo - parando e disparando e o cara fuçando no controle remoto, sem nem olhar quem estava do lado. O Típico Ogro Venezuelano. Incomodando todo mundo em volta com seu alarme insuportável e sem dizer uma palavra.

Eu estava lívida. Furiosa com aquele comportamento. Ninguém vai falar nada? Não, são todos surdos de nascença, como já expliquei. Estão acostumados a serem tratados que nem gado também. Vou dar um bafo. Tô CHEIA!

Virei pro ogro e perguntei: viu, será que você não pode dar um jeito nesse alarme? Está incomodando todo mundo! (o que era bem óbvio, já que a cena estava rolando há uns dez minutos).

O ogro gritou: Eu não sou técnico! Quer que eu faça o quê?

Eu: É seu carro, então estacione longe das pessoas pelo menos.

Ogro: Se está incomodada é muito fácil, pode sair.

Eu: (perdi a partícula microscópica de paciência que ainda tinha) Não me interessa se você é técnico! Não sou obrigada a ficar ouvindo essa merda de alarme!

Ogro: me xingou de alguma coisa péssima.

Eu: Quer saber, é por isso que esse país é essa merda. Por causa de gente que nem você, que é uma merda e vive na merda e gosta dela! (BAIXO NÍVEL TOTAL, eu sei.)

Ogro: mais xingamentos.

Paul, que estava do meu lado ainda quieto, resolveu se meter e abriu a boca. Aí que eu me dei conta, isso pode ser um problema. Porque até então eu estava xingando o cara de tudo e liberando minha raiva e bem, mas foi só um homem dizer alguma coisa que o ogro se levantou e veio na nossa direção.

Antes que alguém fale alguma coisa, eu sei que estava errada provocando briga com o namorado do lado. Porque, *regra geral*, é isso que esses idiotas querem, que o homem intervenha e tudo termine numa confusão master. É uma prática comum por aqui os homens serem agressivos e/ou desrespeitosos com mulheres que nunca viram na vida, só pra conseguir uma reação do namorado/noivo/marido. Imagina então nesta situação, com uma mulher-que-nunca-viu-na-vida mandando o cara à merda.

Ogro: Eu bato em homem e mulher, sim! Está pensando o quê? Porque eu sou MACHO!

Eu: Machíssimo, batendo em mulher... Isso lá é macho, MARICÓN?

Uia, agora já era, pensei. Ele estava roxo de raiva. Paul havia pedido que ele simplesmente parasse o carro em outro lugar e a gente terminasse com isso, mas era tudo que o ogro queria, arrumar um pretexto pra enfiar a mão nele e chamar seus amiguinhos pra ajudar. Por isso resolvi me limitar a gritar "não chegue perto de mim!", virar a cara e encerrar a discussão, e assim evitar que ele chegasse perto do Paul.

Funcionou. O ogro deu mais uns berros, mas recuou de volta pra onde estava, e tinha esse monte de gente em volta dele, outros homens, mulheres e crianças. A Família Ogro, comendo salgadinhos de isopor e tomando um refrigerante de framboesa horrível que eles adoram aqui, Frescolita. Nunca vi tanta gente feia e mal-vestida na minha vida, e comentei com Paul.

Paul: Agora pára, você.

Eu: Só estou sendo sincera. Mesmo se eu gostasse deles, iam continuar parecendo uma matilha.

Quinze minutos depois, continuávamos sentados exatamente no mesmo lugar, bebericando cervejinhas, e a Família se dispersou (deixando uma montanha de lixo pra trás, claro), uns entrando no carro com o ogro e outros em uma van. Só do carro, a alguns metros, o super-covarde teve coragem de gritar pra gente:

- Tchau, gringo filho da puta!

Nós: Tchau, gordo de merda + toda sorte de insultos venezuelanos + dedos.

Adoro dizer gordo de miiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiierda.

Em seguida passou a van com mais um ou dois feiosos também chamando o Paul de gringo hijo de puta. Uau.

Agora vem a parte científica desse episódio infeliz. Olha só o complexo que esse povo tem. EU reclamei do alarme, EU briguei com o ogro, EU mandei ele pra todos os lugares piores da Terra e o Paul é chamado de gringo de mierda? Pra mim teve um "feia" e olhe lá. "Boba"? Muito bizarro. Eles ODEIAM gente diferente. E eu estou 100% cheia dessa cultura porca, ignorante, machista, truqueira e viciada em silicone e beisebol.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Mortópolis, ou cemitério da Recoleta

Pensava que os irlandeses tinham mania de cemitério até conhecer o Recoleta. Não, não saí desesperada pra "ver" a Evita - até entendo o fascínio que as pessoas têm pela vida dela, mas essa mania não me pegou. Fui porque: 1) adoro cemitérios desde criancinha; 2) estávamos tomando café ali mesmo na Recoleta, então might as well see what the fuss is all about. Com ou sem cemitério, aliás, vale a pena ir ao bairro, porque é lindo e aristocrático e muito verde. Aliás mesmo em notórios tempos de turismo econômico em Buenos Aires, este café da manhã foi uma facada, e não das de manteiga.

Arredores do Recoleta

Logo na entrada dá pra ter uma idéia do que o lugar é: uma cidade de mausoléus de todos os tamanhos, onde estão enterradas (ou onde há espaço para) as famílias mais ricas da cidade.




Gente, é o país da morbidez! Mas os mausoléus são mesmo impressionantes, cheios de esculturas e grades e vitrais, alguns impecáveis e outros caindo aos pedaços. O lugar data de 1822 e tem cerca de 70 sepulturas declaradas como monumentos históricos nacionais. Parece mentira, mas quase todos os túmulos mais antigos e malcuidados e os arbustos ao redor estavam cobertos de camadas e camadas de teia de aranha, à la Halloween. Fora os gatos, dezenas de gatos misteriosamente distribuídos em cada rua do cemitério. Um por rua! Imagino se eles fazem isso de propósito, só pra deixar os visitantes perturbados. Ao menos os mais impressionáveis, como eu.


Tudo ia bem até resolvermos espiar dentro dos mausoléus (pelo vidro, ok...). Daí me dei conta de que os caixões estavam logo ali, separados das pessoas somente por uma porta de ferro e vidro. Em vários era possível ver não um ou dois, mas uma pilha de caixões assim, meio caindo, um em cima do outro. A partir daí os sanduíches de miga (provem, são misto-quentes em um pão de forma superlevinho) que estavam no meu estômago começaram a se comportar mal... Ainda não tinha captado essa história de mausoléu. Na minha cabeça simplória funciona assim: morreu, enterrou ou cremou - de um jeito ou de outro os restos são comidos (ui!), ou pelos vermes ou pelo fogo.

Favor não perturbar os mortos.

Da Wikipédia : Na Europa os sepultamentos dentro das igrejas eram comuns até o momento da peste negra (peste bubônica) quando as igrejas não comportaram mais tantos corpos, além do risco de contaminação, quando os enterros foram instituídos. No Brasil-colonial e imperial os sepultamentos existiram até o ano 1820, quando foram proibidos, momento que construíram os primeiros cemitérios. Até então somente negros (escravos) e os indigentes eram enterrados. Os homens livres eram sepultados nas igrejas, por isso o tamanho de uma cidade era medido pela quantidade de igrejas que possuía, pois as igrejas faziam o papel dos cemitérios e algumas cidades coloniais, no Brasil, por exemplo, possuíam mais de 360 igrejas. O sepultamento continua a existir em cemitérios modernos que constroem sepulturas ao invés de covas. O corpo não é enterrado e sim encerrado dentro de uma câmara, onde irá decompor-se.

Conselho: não pense em nada disto quando visitar o cemitério, porque dá enjôo.

Categoria luxo: nota 10

Depois de me perder e perguntar um pouco, acompanhada de um grupo de israelenses que não falavam espanhol, encontrei o sepulcro da família Duarte, onde está a Evita (por uma pequena contribuição é possível adquirir um mapa na porta do cemitério, mas eu não sei ler mapas, nem os fáceis nem os difíceis). Ele é simplinho comparado com as loucuras de ostentação que você vê pelos seis acres do lugar, mas é bem-cuidado e... tem uma FILA constante de gente querendo colocar flor e fazer sei lá o que mais. A morta mais querida que eu já vi.

O povo traz até bombons. Que ela deve estar magrinha eu imagino, mas...

Aqui, um monte de histórias curiosas sobre os habitantes do Recoleta - tem a do coveiro que passou a vida economizando para ter seu próprio mausoléu, a da mãe que pediu autorização para dormir ao lado do sepulcro da filha, do casal que se detesta pela eternidade. Bom para praticar el portuñol.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Mi Buenos Aires Querido

A partir de amanhã euquesei vai estar bundando em Buenos Aires.

Aguardem notícias.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Caracas leva o Prêmio Presunto 2008

Euquesei é informação (atrasada).

Em setembro a revista americana Foreign Policy publicou uma lista de top 5 cidades onde se cometem mais homicídios no mundo. Caracas, longe de fazer feio, levou o troféu: 130 homicídios por cada grupo de 100 mil habitantes. Em uma população oficial de 3,2 milhões de pessoas.

(leia ouvindo Crimewave - Crystal Castles vs Health)

Já tinha ouvido falar que Caracas é a cidade mais violenta do mundo em outras ocasiões, mas o que impressiona desta vez é que os números com que a revista trabalhou são bastante conservadores. Os dados oficiais do governo omitem homicídios relacionados ao sistema prisional e outros que não chegam a ser "categorizados". E, claro, não contam as mortes causadas por "resistência à prisão". Conhecendo a fofurice habitual da polícia daqui, não é de se espantar. Eles são assustadores.

Algumas obras do Museu de Belas-Artes de Caracas também são assustadoras.

Sempre escuto histórias absurdas de coisas que eles aprontam na cara do povo, como por exemplo o que um de meus alunos contou: ele saía do trabalho, em um escritório aqui perto, caminhando com mais um colega, quando foi abordado por dois policiais perto da ponte. O motivo? Queriam dinheiro. Depois de limpar as carteiras dos coitados, saíram rindo. Isso às sete da noite, em um bairro de classe média alta. Imagina então o que não é no resto da cidade.


O artigo ainda põe o dedo na cara do presidente e diz que desde que Chávez assumiu o governo, em 1998, a taxa de homicídio oficial aumentou em 67%. Miércoles!


Outras fontes não-oficiais calculam que a taxa real é ainda maior: 160 por 100 mil. Pra vocês terem uma idéia do quanto isso é grave, a Cidade do Cabo (África do Sul) tem uma população de 3,5 milhões e levou o segundo lugar no top 5 com uma taxa de 62 homicídios por 100 mil habitantes. Menos da metade de Caracas.


Centro de Caracas: fui chamada de louca porque fiz uma visita, em plena luz do dia, mas sozinha.

A Foreign Policy não dá, no site, a fonte dos números, mas em uma
entrevista à Terra Magazine o sociólogo venezuelano Roberto Briceño León confirma que os dados sim existem e já foram anunciados há alguns meses pelo Observatório Venezuelano da Violência, núcleo da Universidade Central da Venezuela.

Saquem só esse trecho da entrevista: Por que o governo foi incapaz de melhorar os índices de criminalidade, apesar de todas as ações que foram tomadas? Porque não existe uma política, não se sabe o que fazer. Não se reconhece que isto é um problema grave. Porque não houve uma descontinuidade notória entre um ministro (de Interior) e outro.

A impressão pessoal que eu tenho aqui em relação à qualquer administração pública é exatamente essa: não sei e tenho raiva de quem sabe.

Outra informação interessante: a pobreza, claro, sempre foi culpada pela violência. Na Venezuela, porém, indicadores sociais como renda e consumo melhoraram nos últimos anos; mas os homicídios continuaram aumentando horrivelmente. A explicação, segundo o sociólogo,
é de ordem política, ou seja, da perda do pacto social e da perda da legitimidade das instituições, da existência de uma ação de governo que se dedicou a quebrar a legitimidade institucional, a elogiar condutas transgressoras, e isso tem conseqüências na criminalidade cotidiana.

Disse tudo. A tal Revolução Bolivariana aqui é uma desculpinha muito da vagabunda pra usar a Venezuela como um talão de cheques. E o resultado (parcial) é esse aí, crianças.

Dica da Bu

Fios, sobre os restaurantes indianos em São Paulo que eu mencionei no post passado, minha dear Bu deu os seguintes pareceres, que eu compartilho aqui com vocês:

Sobre os restaurantes, o Tandoor é bem típico mas não sei de que região da Índia. Os donos são indianos e a comida é ótchima e mega picante.
O Gopala é aqui pertinho e muito bom, mas outro dia comi um escondidinho de jaca (??) e outro dia ainda serviram uma lasanha com quiabo. Indian?
O Puri é bar, nem comento a canalhice.
O Govinda minha mãe conhece e diz que é ótimo.

Reconheço e dou fé. Thanks Bu!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A gulosa auto-suficiente: duas receitas fáceis de comida indiana

Namastê, crianças!

Eu nunca fui à Índia, mas qualquer pessoa que já tenha visitado a Europa, principalmente a Grã-Bretanha, já teve contato com a cultura indiana. Em Londres há um restaurante indiano em cada esquina - todos os bairros têm ao menos um local indian. Geralmente são baratos, não tanto quanto os chineses, mas gastando trinta libras já comprei comida que durou uns três dias pra almoço e jantar... Não tem miséria com eles não!

Sei também que "comida indiana" é um termo genérico demais, visto que as diferentes regiões da Índia têm cada uma sua cozinha e seus pratos preferidos - e as cozinhas do Paquistão e de Bangladesh acabam também caindo no mesmo rótulo. Isso porque, para o leigo, são mesmo semelhantes na aparência e no uso de temperos.
Mas não se engane: cada ramo da cozinha indiana possui uma ampla seleção de pratos e técnicas culinárias. Embora grande parte das receitas seja vegetariana, muito pratos indianos tradicionais incluem frango, peixe, bode, cordeiro e outras carnes. Bife não é comido pela maioria dos hindus.

Em São Paulo eu contei apenas sete restaurantes indianos:

Delhi Palace:
Av. Presidente Juscelino Kubitschek, 1132 - Itaim Bibi - (11) 3073-1209
Ganesh Av. Roque Petroni Jr., 1089 - Shopping Morumbi -
(11) 5181-4748
Gopala: Rua Antônio Carlos, 413 - Cerqueira César -
(11) 283-3867
Govinda
:
Rua Princesa Isabel, 379 - Brooklin - (
11) 5092-4816
Maha Mantra: Rua Fradique Coutinho, 766 - Vila Madalena - (11) 3032-2560
Puri Bar & Restaurante:
Rua Augusta, 2052 - Jardim Paulista - (11) 3081 - 8667
Tandoor: Rua Dr. Rafel de Barros, 408 - Paraíso -
(11) 3885-9470

E isso que o tal Puri se diz indiano, mas no site oferece feijoada aos sábados... Sei não! Melhor confirmar antes de ir. Aliás eu mesma nunca fui em nenhum deles, por isso se você já foi, me escreva contando.

Em Caracas o único restaurante listado é o Masala [Av. Francisco de Miranda, Torre Delta - Altamira - (0212) 267-0878]. Vale a pena ir se você, como eu, está em plena crise de abstinência de curry. Isso porque a experiência é bem fraquinha: o restaurante tem aquela cara de hotel, um salão grande com toalhas de mesa creme e mobília escura. E no cardápio, pelo que eu me lembre, não se vêem mais que dez opções. Como assim! Qualquer takeaway (os restaurantes só "para levar" dos britânicos) indiano minúsculo oferece no mínimo o triplo disto. Meu curry estava gostoso; mas o risoto vegetariano que o Paul pediu, não. De toda forma eu nunca vi risoto em nenhum cardápio indiano antes.

Pois bem, então bora ser uma gulosa auto-suficiente e catar umas panelas e assaltar a prateleira de temperos do supermercado. E achar umas receitas fazíveis, algo para os iniciantes, de preferência vegetarianas, que na minha opinião são o que os indianos fazem melhor.

Minha amiga Karla, boa professora que é, me indicou o Manjula's Kitchen, de uma senhorinha indiana que ensina receitas vegetarianas básicas com vídeo, passo a passo. É realmente idiot-proof.

Como ela ensina em inglês e eu sou uma boa alma, vou fazer o obséquio de explicar algumas receitas que eu testei aqui no blog.

A de hoje é o meu jantar de ontem: Pulav (arroz com vegetais) e Toor Dal (lentilhas).

Note que eu não sou indiana e que vivo em Caracas, portanto tive que fazer algumas adaptações, por falta deste ou daquele tempero, pois tive que me contentar com o que tinha no supermercado (que por sinal é o que se encontra nos supermercados brasileiros também). A receita original está no site.

PULAV

Ingredientes:
Para o arroz
1 xícara de arroz
1 xícara de sementes de cominho
2 folhas de louro
1 colher (chá) de sal

Para os vegetais
1
colher (chá) de sementes de cominho
1 cenoura picada
1 xícara de couve-flor picada
1/4 de pimentão vermelho picado
1/4 de pimentão verde picado (se você gosta de sabores picantes, substitua este por pimenta verde ardida picada)
1
colher (chá) de gengibre ralado fininho
1/2
colher (chá) de garam masala*
1
colher (sopa) de suco de limão
coentro picado para enfeitar

* Garam masala é um tempero que combina cinco especiarias ou mais especiarias. Sua composição varia nas diferentes regiões da Índia. Como eu não tinha garam masala pronto, segui uma receitinha básica:
- 2 cravos
- 1/4
colher (chá) de sementes de cominho
- 1/4 de ramo de canela picado
- 1/4
colher (chá) de noz-moscada
- 1/4
colher (chá) pimenta preta

Misture tudo e se tiver um pilãozinho ou espremedor de alho, tente moer a mistura. Eu não tinha, então adicionei um pouco de água e fervi. A mistura rende o equivalente a 1
colher (chá) de garam masala. Pra este jantar, dobre as quantidades, porque você vai precisar de uma pros vegetais e uma pras lentilhas.

Modo de preparo:

Esquente 2
colheres (sopa) de óleo e refogue as sementes de cominho. Adicione o arroz e as folhas de louro, deixe refogar por um minuto e adicione água suficiente (em torno de duas xícaras). Deixe cozinhando e vá preparar os vegetais.

Em uma frigideira com 3 colheres (sopa) de óleo bem quente, cozinhe primeiro as sementes de cominho, depois a cenoura e a couve-flor, por mais ou menos 3 minutos. Depois adicione os pimentões e o gengibre e deixe cozinhar até que os vegetais fiquem tenros.
Mantenha o fogo baixo. O cozimento ontem levou uns oito minutos. Talvez seja preciso adicionar duas ou três colheres (sopa) de água durante o processo para que os vegetais não ressequem. Queremos eles tenros e não secos e queimados!

Quando o arroz estiver pronto e os vegetais, tenros, adicione o arroz à frigideira e misture-o com os vegetais, aproveitando bem o óleo/caldo no fundo da frigideira. Deixe o arroz fritar um pouquinho também, mexendo sempre. Desligue o fogo e acrescente o limão e o coentro, misturando. Pronto!

TOOR DAL

Ingredientes:
1 xícara de lentilhas
3-4 xícaras de água
2 colheres (sopa) de óleo
1
colher (chá) de sal
1/2
colher (chá) de cúrcuma
1
colher (chá) de gengibre ralado bem fininho
1
colher (chá) de garam masala

Esse é bem fácil: refogue o gengibre e as lentilhas no óleo quente, depois adicione a água (que deve ser suficiente pra cozinhar as lentilhas) e o resto dos ingredientes e deixe cozinhando. O único problema é que lentilhas demoram décadas, então use uma panela de pressão (por mais ou menos sete minutos) ou deixe as lentilhas de molho um dia antes e cozinhe-as por uma hora e meia (afeeeeeeeeeeeee). Eu como não tenho a tal panela mas sou ishperta, comprei lentilhas pré-cozidas (sem tempero), enlatadas.

Depois de se sacrificar na cozinha, é só servir os dois pratos com uma saladinha de tomate, pepino e salsinha picados. E trocar o jantar por uma massagem tântrica, dependendo do(s) seu(s) convidado(s).

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Faroeste caraquenho


Um motivo muito bom é necessário para uma pessoa ser convencida a morar em Caracas.

O problema não é a poluição, nem o barulho, nem a sujeira. Nem a cara-de-pau dos caraquenhos. Nem a inflação. Ou a violência. Ou o trânsito. O problema é tudo isso junto.

Aqui não existem regras mesmo. E todo mundo sabe disso - reclama quando quer, aproveita quando pode. Só pra lembrar, olá, nascida e criada no Brasil, certo? E ainda digo que este lugar sim corrompe qualquer tipo de moral.

Dou muita risada quando ouço algum caraquenho falando de educação. Desculpa, mas é o que eu posso fazer! Ninguém aqui mais tem a menor idéia do que seja educação. Talvez pensem que dizer buenos días e hasta luego seja o mesmo ter boas maneiras. Ser civilizado. Como estás, mi amor no celular e ao mesmo tempo enfiar a mão na buzina às seis da manhã, logo depois de ter saído da garagem do prédio à toda e quase atropelar a velhinha. A velhinha, por seu turno, passeava com seu pequeno pug cagão na calçada, deixando presentinhos para todos os passantes. Por que não? Os cachorros de todos os vizinhos cagam na rua.

Em Caracas as noites são quentes e as calles são sujas. Vou ao supermercado à pé, atenta para não pisar nas baratas. Ao lado do posto de gasolina há uma ótica, uma galeria de arte e uma concessionária. Também um carrinho de cachorro-quente funciona a partir da hora do almoço. Enche de gente e a esquina à noite se enche de lixo. Em frente à galeria, já fechada, uma sombra corre de mim... Sei que não era um gato, mas era quase do tamanho de um.

A cidade não é para pedestres. Usaria botas se não fosse o calor.

Perto da minha casa há uma loja Cartier. Eu nem imaginava, porque para entrar você precisa primeiro adivinhar que ela está ali. Depois passar por dois ou três seguranças. Não há indicação externa alguma de que a loja exista. Descobri porque a gerente da assistência técnica é minha aluna, e trabalha no segundo piso. Pelo visto três seguranças do lado de fora e sabe-se lá quantos mais dentro não são suficientes para a loja mostrar o nome na rua.

Todos os dias caminho até este lugar, na hora do almoço. Um par de óculos escuros enormes e vou. Não só pelo sol, mas também para melhor ignorar o homus caraquenhus vulgaris, também conhecido como homem comum. Já passei por um período reprimido, depois por um agressivo, agora estava tentando uma coisa mais zen-budista. Não está dando certo. Toda vez que o parquero (manobrista) que passa o dia fazendo nada em frente ao café fino vê uma mulher passando, tem que dizer alguma besteira, e eu ando tendo uma vontade irracional de fritar a cabeça dele em óleo e depois dar pros cachorros. No semestre passado, quando eu comecei a liberar esse tipo de raiva, boa coisa não deu - posso dizer que houve gritos, ameaças, cuspe e uma breve, semi-intervenção da polícia.

Que posso fazer? Eu só cuspo quando tenho certeza.

Dois dias depois torci o tornozelo e tive que ir ao médico. Brujería daquele imbecil? Sei lá. Como ainda não tinha plano de saúde, fui a uma clínica particular com centenas de bolívares na bolsa, preparada para o absurdo que ia ser a conta. Tirei apenas uma radiografia e na saída me apresentaram mil bolívares na fatura (o equivalente a mil reais). Amarela de susto fui checar, item por item, a facada. Raio-x, certo, taxa de admissão na emergência, também... Mas o resto, nada que ver com nada. Fui perguntar no caixa, tomei mais um chá de cadeira. Depois o próprio não conseguia me explicar o resto da conta. Minha cabeça queimava, ardia insuportavelmente, até que perdi a paciência - e ninguém nunca mais ia ser capaz de encontrá-la, pelo menos naquela clínica.

Ele disse: você não pode ir embora sem pagar o resto. Resposta: como não se já estou indo? Tchau. Fez menção de vir atrás de mim, então fui clara: vai fazer o quê? Cancelar meu cartão de crédito? Não tenho. Nem conta em banco. Vai chamar a polícia? Ótimo, aí você me explica melhor, na frente do policial, esta conta esotérica.

Parou de me seguir. E eu me arrastei, mancando, até o ponto de ônibus mais próximo, já que não tinha mais dinheiro para o táxi.

Chegando em casa recebi uma mensagem de uma aluna, que mais cancela aulas do que assiste, perguntando se podia mudar de idéia e confirmar a lição do dia. Não, não pode, porque eu caí da escada e torci o pé e não me sinto bem.

Mas eu já estou a caminho, disse ela, peguei um táxi.

Ah, tudo bem então, sem problemas. Só esqueci de te avisar que mudei pra Colômbia. Nos vemos na semana que vem.

Aquele verde estava me dando ânsia.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Irlanda, parte I - fynas & bunytas na República

Em 2005 ela foi à Irlanda... Mas não tinha blog ainda. Então resolveu ir de novo em julho de 2008 pra refrescar a memória e, de brinde, conhecer A FAMÍLIA.

O único motivo do tom tenebroso é o fato de eu já saber milhares de pormenores sobre, ter visto pilhas de fotos, ser amiga no Facebook e não conhecer esse povo pessoalmente, ainda. Porque a família do meu namorado mora no Canadá - e eu nunca estive lá, mas toneladas de tios e afins ainda se encontram em Northern Ireland. Assim, sabendo que íamos estar na Europa no verão, meu sogro (ainda virtual) planejou... A REUNIÃO DE FAMÍLIA. Em variados lugares do país.


Desta vez, portanto, a viagem ia incluir:


a) Frio na barriga (sou horrível com famílias, normalmente não tenho a menor diplomacia);

b) 52 piadas bestas sobre leprechauns;

c) Guarda-chuva (verão na Irlanda dificilmente requer guarda-sol);
d) Epocler (aquele pro fígado depois das 34.611 reuniõezinhas familiares regadas à Guiness);
e) Mãe brasileira.


Sim, pedi arrego e chamei a mãe.
- Custa você ir até a Irlanda só um pouquinho?


Mentira, ela aceitou de bom grado. Foi só prometer ruínas e civilizações perdidas. Minha mãe é o Indiana Jones de cachinhos.


Ratoath

Antes de ir pro que parecia ser o Big Family Belfast (quando encontrássemos a família dele, íamos ficar todos juntos em uma casa no meio do nada por duas semanas - pai, mãe, cinco filhos, três caras-metade e duas brasileiras - com transmissão ao vivo para toda o país! OK, isso não), fui falar português até deslocar a mandíbula em Ratoath, cidadezinha de 8.000 habitantes a vinte minutos de Dublin.


Lá vivem os melhores hosts do mundo (pelo menos do meu), Fabi e David - mais um da série Brasil x Irlanda. Ele é o irlandês doutor em brasilidades, fala português perfeito e gosta de novela! E ela, a brasileira expert em steaks, chuva e Irish history. Combinação perfeita!


Fazendo o que sabem fazer melhor: cara de louca.

Foi exatamente com eles que fiquei em 2005 (para o casamento, diga-se de passagem) por alguns dias ótimos, no inverno, passeando e sendo engordada. Fabi até me pedia pra ver o dedinho... Medo! Mas divago. Vamos ver o que é que o tigre celta tem.

Glendalough


Este é um vale em County Wicklow, parte de um parque nacional. Na Irlanda tudo são vales e montanhas e planícies muito, mas muito verdes, de tanto que chove na ilha - não grandes tempestades, mas uma garoa insistente e pentelha, que se não ajuda os piqueniques pelo menos deixa a paisagem bonita.

Na entrada de Glendalough. Juro que me esforcei pra esperar este ser de vermelho passar, mas meses não seriam o suficiente.

No tal vale estão as ruínas (aha!) de um monastério construído no século VI por um monge (St. Kevin) e destruído em 1398 - pelos ingleses, quem mais?


Ruínas do mosteiro.

Eu provavelmente visitei mais de dez cemitérios em vinte dias na Irlanda (norte e sul) e vi mais centenas de outros. O que fica em Glendalough foi o primeiro da fila, então mereceu muitas fotos. Cheio de cruzes celtas e túmulos muito antigos. Só que obviamente os antiquiquíssimos já estavam apagados ou nem lápide tinham, então não deu pra saber quais eram os mais remotos. Me dei conta, sim, de que estava é pisando em um monte de túmulo sem demarcação, e isso sempre me arrepia.

A Irlanda é cheia de histórias de fantasmas, e Glendalough tem a sua, claro. Minha mãe encontrou esta página de revista em um blog e ficou obcecada, porque não conseguimos achar o arquivo original para poder ler o que está escrito.

Um outro site diz que em Glendalough "o fantasma de Kathleen flutua nas águas do lago ao lado das ruínas mosteiro"... Kathleen? Muito franca.

Tentamos fazer contato com o fantasma de Kathleen... Mas quem apareceu foi a Fabi.

O parque é bem grande e tem um lago muito lindo (Upper Lake), mas não se pode nadar. Nem acho que alguém queira! Pleno verão e todos de casaco. Também dá parfazer caminhadas e até escalada, mas não era o nosso caso, estávamos só passeando. Para mais informações, achei esse site, com mapas, descrição das trilhas, história completa do monastério e etc. Vale a pena passar um dia todo lá com certeza, levar um piquenique e fazer algumas das nove trilhas descritas na seção walking trails - e rezar pra não chover.

Upper Lake

Trim

A menos de uma hora de Dublin fica esta cidadezinhinha, mais uma entre tantas se não fosse pelo Trim Castle, ou o que sobrou dele. É o maior castelo normando da Europa e maior de todos na Irlanda. Era uma fortaleza que começou a ser construída em 1174 por Hugh de Lacy (Lorde de Meath durante a invasão normanda da Irlanda) e funcionou como centro administrativo do Condado de Meath até o fim do século XV, depois foi perdendo a importância e começou a decair, servindo mais como base militar. A história do castelo é longa e passa por muitos ataques e uma guerra. Depois de muito abandono (virou até lixão municipal por alguns anos) foi passado aos cuidados da administração pública, e finalmente restaurado no início dos anos 90.


Mas o castelo ficou mesmo chique & famoso depois que o Mel Gibson o pegou emprestado para aparecer (um pouquinho) em Coração Valente (1995). Eu tinha quinze anos quando vi esse filme, e fora a quantidade de lanças e flechas espetadas em lugares sensíveis e o ar de doido varrido do Mel Gibson, gostei e fiquei até emocionada com a história, mas depois me decepcionei quando descobri que quase nada era verdade histórica, nem mesmo os kilts que os rebeldes do William Wallace usavam.

Esse é do eke.

De todo jeito, esqueça o Mel e vá em uma das visitas guiadas do castelo - não custam caro e dão uma idéia de o que era o quê no meio das ruínas e como viviam seus moradores. Eu adoro história e esse passeio foi um dos melhores, entre os "educativos", que eu já fiz. Dá pra subir na torre e tudo mais e a entrada não passa de quatro euros.



Quando acabar a visita, euquesei recomenda gastar muito mais euros e comer num restaurante do lado do castelo chamado Franzini O'Briens. Esse nome esdrúxulo traduz bem qual é a deles: tem de curry até fajitas, passando por steaks gigantes, massas e frutos do mar. Tudo bem servido mas não barato, pois o lugar é bonito e ao lado de um castelo, né! Queria o quê?

Dublin

Minha segunda vez em Dublin foi menos mão-de-vaca. Na ocasião da primeira, em 2005, fazia seis meses que eu morava em Londres, tinha empregos bunda e gastava o que podia e não podia em festas, então quando chegava a hora de viajar... Nada.

Mas não tenho nenhuma pretensão de dissecar Dublin aqui - deixo para os especialistas, porque é muita história. Quero é dar palpite e só.


Nosso mini city tour começou com uma volta à pé pela cidade, que mesmo sendo capital é também super-pequena e tudo o que interessa está a uma distância caminhável. O dia estava cinza porém seco, ideal pra esse passeio. Tínhamos um carro alugado porque em vinte dias íamos a muitos lugares pelo país, mas estacionar em Dublin é um inferno. Simplesmente não tem lugar. E quando tem, custa caro (como a maioria das coisas em Dublin) - tipo 17 euros por algumas horinhas. Mas é o jeito.

Liffey River

O centro da cidade é bonito e super turístico, bares e restaurantes à escolha. Para quem curte cafés, o mais famoso de Dublin é o Bewleys (78 Grafton St), inaugurado em 1927 num prédio maravilhoso. Vive lotado e o serviço é demorado, mas a comida e os chás são deliciosos.

Ok, já começamos comendo. Mas olhem, pra mim não tem mais nada turístico que comida. Se eu pudesse, quase todas as minhas viagens seriam turnês gastronômicas... E eu ia terminar obesa e pobre, mas feliz.

Enfim, depois caminhamos até o City Hall pra queimar os muffins.

O prédio, de 1769, tem buracos de bala até hoje na fachada, assim como diversos lugares da cidade que sobreviveram às diversas guerras e conflitos por que Dublin passou (contra os ingleses, a guerra civil, as guerras mundiais, etc.). Afinal paz e prosperidade na(s) Irlanda(s) são acontecimentos super-recentes, e em alguns lugares (do norte) ainda é possível sentir, de uma maneira estranha, a tensão.

Se alguém está te mostrando Dublin, cedo ou tarde vocês vão acabar no Trinity College, parte da Universidade de Dublin e zélebre escola por onde passaram Oscar Wilde e Bram Stoker (Drácula te lembra alguma coisa?), entre outros. É um lugar muito imponente mas ao mesmo tempo cheio de turistas e estudantes pseudo-sujinhos zanzando por lá. Não sei vocês, mas quando visito esse tipo de lugar me dá um certo deslumbramento, dá até vontade de ser culta. E depois uma leve depressão, porque passei cinco anos sentada naqueles prédios tão feios da Economia da Unicamp, ouvindo falar de Marx e do ciclo do café. Poeira por poeira, talvez pudesse ser pior.

Entrada do Trinity College

Divago. Em Trinity está a exposição do Livro de Kells, “um manuscrito ilustrado com motivos ornamentais, feito por monges celtas por volta do ano 800 depois de Cristo. Peça principal do cristianismo irlandês, constitui, apesar de não concluído, um dos mais suntuosos manuscritos iluminados que restaram da Idade Média. Em razão da sua grande beleza e da excelente técnica do seu acabamento, este manuscrito é considerado por muitos especialistas como um dos mais importantes vestígios da arte religiosa medieval. Escrito em latim, o Livro de Kells contém os quatro Evangelhos do Novo Testamento”.

Uma ilustração do Livro de Kells.

A gente adora uma velharia, então foi na exposição, que também exibe outros manuscritos antigos e peças relacionadas. É bonito, mas se você não tem nenhum interesse por livros ou história, guarde seus oito euros e vá tomar duas Guiness. Aliás nem vá ao Trinity. A entrada dá direito a visitar a Biblioteca também, que é maravilhosa, grave, altiva e cheia de velha... erm, antiguidades, como toda biblioteca deveria ser.

Há também os tours guiados pelo college – mais caros mas dão acesso a todas as áreas turísticas do prédio, incluindo a exposição.

Depois de tanta cultura, resolvemos que única coisa que ia nos fazer sentir melhor por não termos estudado no Trinity era gastar dinheiro em bobaginhas na Grafton Street. Essa rua é o calçadão dublinense, além de ter dois shopping centers – um no final e outro pertinho. Longe de mim tentar desaquecer a economia, mas nada de interessante. Achei tudo muito caro! Esses povo pirou no euro. O câmbio não pára de subir mas os preços continuam os mesmos de quando a moeda era mais fraquinha. Resultado: comprei uma bolsinha e beijos.

Shop 'til you drop... Ou compre só uma bolsinha.


Melhor mesmo foi desestressar no parque ali do lado – St. Stephen’s Green, uma graça. Ah, e pra quem gosta de se sentir em casa, lhes conto: ouvi português de todos os lados, na rua, no parque. Acho que a Irlanda será anexada ao Brasil em um futuro próximo. Apóio.

Leprechauns correm soltos por St. Stephen's Green.

Pra quem é muito tarado por cerveja, ainda recomendaria visitar a Guinness Storehouse, em St. James Gate, e ficar sabendo tudo sobre a darkie (escurinha) favorita da nação. Admito que eu mesma não fiz essa visitinha (gosto sim de cerveja, mas só de bebê-la), então se fizer me conte.

Newgrange & Knowth

Chato mesmo foi nos despedirmos da Fabi e do David, mas a nossa agenda social estava longe de ser cumprida. No caminho para a Irlanda do Norte (e para a família do Paul), porém, ainda paramos no Vale Boyne para visitar o complexo arqueológico Brú na Bóinne (isso é gaélico), onde ficam os sítios arqueológicos de Newgrange e Knowth.

Entrada de Knowth

Ambos são tumbas construídas entre 3300 e 2900 antes de Cristo, ou seja, antes mesmo da pirâmide do Quéops no Egito e de Stonehenge. Através dos tempos os sítios foram ocupados por diversos povos e usados de formas diferentes, mas quase sempre estavam ligados a cerimônias e rituais.

Para chegar lá, tem que ir ao Brú na Bóinne Visitor Centre em uma cidade chamada Donore. Esse centro de visitantes tem um museuzinho explicativo, filmes curtos sobre os sítios arqueológicos e de lá os visitantes são transportados de ônibus para as tumbas, com um guia.

Tumba com piscina.

Em Newgrange, o mais popular, dá pra entrar na tumba. A posição dela e a maneira como foi construída fazem com que, no solstício de inverno (o dia mais curto do ano no hemisfério norte), a luz do sol entre pela portinha da tumba e ilumine por pouco tempo o piso da câmara no final de um longo corredor. A curiosidade é que tem a maior concorrência pra visitar Newgrange no tal dia! Pra tentar viver a experiência (ahan), tem um sorteio que todo ano premia 100 pessoas com o direito a visitar o lugar no dia do solstício. Parece bobagem, mas em 2006 27.000 pessoas concorreram.

Entrada do famoso corredor de Knowth.

Bem, tudo muito bom, bonito, etc, mas no dia em que fomos não tinha mais visitas a Newgrange. Chegamos tarde e já estava lotado. Mas Knowth estava lá disponível - não é tão procurado como Newgrange porque, apesar de ter o maior corredor, não se pode entrar na tumba principal, apenas olhar lá dentro. Isso porque a estrutura (feita de pedras sem nenhum tipo de cimento que as conecte) está avariada depois de milhares de anos de gente subindo no “morrinho” e morando em cima da tumba.

Alugamos tumba 2 qts (suíte), arms., coz. planej., vista verde, play, garag.

O sítio de Knowth é composto por mais 17 tumbas menores, as "satélites". A maior tem duas passagens e é decorada em todo o redor com pedras cheias de desenhos - ondas, caracóis, espirais, círculos entalhados. Dentro há uma câmara em forma de cruz que contém pedras esculpidas em forma de recipientes, onde as cinzas dos mortos eram depositadas depois da cremação.

Cachinhos e a pedra de cachinhos.

Pela própria apresentação feita pela guia dá pra perceber que ninguém sabe cem por cento as histórias de comos e porquês do lugar, o que significam os desenhos e outros detalhes. Há evidências de ocupação humana datando do período Neolítico, passando pela Idade do Bronze, seguida de um período de ausência de utilização que durou cerca de dois mil anos, até voltar a ser usado na Idade do Ferro como base para um forte. Os túneis das tumbas também viraram esconderijos contra inimigos, e outras passagens foram construídas, além de diversas outras modificações. A quantidade de gente que sapateou por ali desde 3300 AD... Imagina só.

Moda inverno 2500 a.C.

O lugar foi finalmente escavado em 1941 e desde então vem sendo estudado. A excursão é super-organizada e os guias explicam tudo o que você quiser - pelo menos a que foi com o meu grupo tinha uma paciência de jó. Recomendo muito.

Fim da tarde se aproximando. De volta para o carro para duas horas de viagem até... the North.

Próxima parada: Mayobridge, Northern Ireland.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Combo #1: receita de quesadilla + choramingos


Pensando em comida mexicana por causa do post anterior.


Outro dia fiz uma quesadilla DA BOUA, olha só a receita:


Quesadilla com pico de gallo e guacamole (para 4 pessoas)


A foto eu peguei emprestada desse site aqui, ó.

Ingredientes
:

Para a pasta de feijão:
  • 250g de feijão preto cozido (serve de lata também)
  • 1/2 colher de chá de cominho moído
  • 1/2 colher de chá de pimenta calabresa (aquela que tem em toda seção de temperos do mercado)
  • 1 maço de coentro fresco picado (reserve umas folhinhas antes de picar, pra decorar)
  • Suco de 1 limão
  • 1/2 colher de sal
Para o pico de gallo:
  • 1/2 cebola grande picadinha
  • 2 cebolinhas picadas
  • 5 tomates médios cortados em quadradinhos, sem sementes
  • 1 dente de alho amassado
  • 1 pimenta vermelha picadinha
  • Suco de 1 limão grande
Para a guacamole:
  • 1/2 cebola grande picadinha
  • 1 tomate médio cortado em quadradinhos, sem sementes
  • 1 abacate médio bem maduro
  • 2 colheres de chá de azeite
  • Suco de 1 limão
Mais:
  • 8 tortillas pequenas de trigo (se não achar prontas, veja receita facinha aqui)
  • 120 g de cheddar ralado, ou se não tiver, vá de pedaços de mussarela fatiada mesmo.
Extras*, se você encontrar no supermercado:
  • 180 ml de sour cream (pode se aventurar a fazer, se quiser - várias opções aqui)
  • 6 colheres de sopa de jalapeños em conserva picados
*Eu não coloquei os extras no dia que preparei esta receita, e ficou gostoso assim mesmo, apesar de adorar jalapeños e sour cream.

Como fazer:

Pasta de feijão: Tire os feijões de sua água (seja do cozimento ou da lata) e coloque-os junto com os outros ingredientes num liquidificador ou processador e pulse até obter uma pasta grossa, não líquida.


Pico de gallo: Misture tudo linda.


Guacamole: O abacate deve estar maduro a ponto da polpa ser facilmente separada da casa com uma colher, e amassada ainda mais facilmente com um garfo. Daí é só misturar o resto. O legal é que tudo esteja picadinhinhinhinho mesmo. Bom também é preparar a guacamole tipo cinco ou seis horas antes de comer, pra curtir nos temperos... Mas se não der tempo, sem problemas.


Quesadilla, finalmente: Tenha um grill (dá pra usar a churrasqueira!) OU uma frigideira prontos. Passe a pasta de feijão no centro (2 colheres de sopa), mais um pouco de sour cream, mais o queijo salpicado por cima e uns jalapeños. Enrole como uma panqueca OU dobre-a ao meio como um crêpe e cozinhe por 2 ou 3 minutos de cada lado - na real o que queremos aqui é só que o queijo derreta um pouco e que a tortilla (que já é cozida) fique coradinha. Transfira a quesadilla pronta pra um lugar aquecido (pra não esfriar) e faça as outras sete... Ou quantas mais você conseguir.


Sirva as bunytas cortadas ao meio em um ângulo (para maior charme, se enroladas como panqueca), salpicadas de folhinhas de coentro, com o pico de gallo e a guacamole como acompanhamento.


* * *

As coisas aqui em Caracas estão tão paradas que só cozinhando mesmo. É chato voltar das suas férias, com energia para trabalhar, e ter que esperar os OUTROS voltarem das férias deles. A batatinha sabor queijo que eu gostava tanto agora mudou, virou sabor só sal. Minha melhor amiga na Venê foi-se embora pra Buenos Aires (bom pra ela). Tenho um monte de coisas burocráticas e chatas para resolver que dependem de um monte de gente chata e burocrática que provavelmente está cagando pra mim. Tenho vontade de discutir a relação todo dia, por falta de algo melhor pra fazer.

Alguém aí está a fim de 7 dias e 6 noites no meu guest room 4 estrelas, com café da manhã, city tour e quesadillas incluídas?

Let me know em aymoner@yahoo.com